sábado, 27 de março de 2010

Queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse “ei, você se expõe demais” e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar porque sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole em frigideira. Eu queria ir para um planeta onde não existisse tempo de beijar e tempo de pirar. E eu pudesse ir agora ao seu mundo e te beijar até enjoar de você. Para mostrar que meio mundo te procura enquanto eu não posso te procurar porque a cartilha da vovó que casou dizia que a mulher nunca pode procurar o homem se não quiser ser usada por ele. Eu queria mandar pra puta-que-pariu a cartilha da vovó. E queria tirar essa voz do meu pai da minha cabeça, dizendo “minha filha, homem não gosta dessas coisas". Eu falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma. Sou demais, tanto que ninguém aguenta. Ninguém entende nada. E eles adoram uma sonsa. Adoram. Mas dane-se. Um dia, um louco, direto do planeta dos 2% de homens, aparece. E que se dane a natureza gritando no meu ouvido que não posso ser assim. Que boa fêmea sabe esperar nove meses, portanto deve saber esperar uma ligação ou um sinal de "pode avançar no joguinho". Eu não sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo. Porque é preciso saber viver. Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para também ser louco de vez em quando. E as meninas sonsas se dando bem, e eu dormindo abraçada com o travesseiro. Já que não tenho coragem de assumir a minha loucura queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. E repetir, repetir e repetir o erro. E jurar que da próxima vez eu serei normal. E jurar que da próxima vez eu obedecerei á natureza, ao meu pai, à cartilha da vovó ou às meninas sonsas. E virar a rainha dos 98% dos homens que não sabem o que fazer com uma pessoa que nem eu. E depois chutar todos eles. Pode até ser meio solitário nadar contra a maré, mas como é gostoso olhar a multidão do outro lado e enxergar todo mundo pequeninho.

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