sexta-feira, 2 de abril de 2010

por que eu não nasci uma porra louca?

Outro dia depois de um daqueles shows de mpb que eu costumo ir, eu e uma amiga resolvemos comer uma pizza e colocar o papo em dia. Foi uma daquelas conversas descontraídas que vão da sensibilidade do Chico Buarque até o designer da luminária do restaurante. E no meio de tantos assuntos, ela me confessou: "Sabe, Paulinha... às vezes eu me pergunto por que eu não nasci uma porra louca". Foi uma coisa inusitada, mas não me surpreendeu. Afinal, eu já me peguei fazendo essa mesma pergunta em frente ao espelho. Dezenas, centenas, sei lá quantas vezes: "Por que eu não sou uma porra louca?", "Por quê?", "Por quê?"... Provavelmente eu estaria muito mais feliz agora, teria uma lista maior de ex-namorados e não teria que me preocupar com coisas bobas como tentar entender o pensamento dos alquimistas européus do século XIII. Quando se é uma porra louca não é preciso muito para sobreviver. Não é preciso cds do Debussy, livros da Jane Austen, fotos em preto e branco, tabelas periódicas, filmes européus ou perfumes personalizados. Quem precisa dessas coisas quando a felicidade tá logo ali: naquela baladinha super badalada. Para quê passar anos planejando um futuro promissor se ele tá logo ali: uma vidinha mais ou menos, sem nenhuma dúvida existencial, morna e com churrascos nos fins de semana. É tudo mais simples. Só é imitar e ir levando. Para quê juntar dinheiro para conhecer Paris ou ralar para manter a média da faculdade alta? Quem precisa conhecer Paris ou ir a faculdade? Eu moro num país tropical, lindo e azul. A terra do carnaval e do silicone e eu me preocupando em conhecer Paris. Quem precisa disso? Eu decidi. Vou ser uma porra louca. É isso. Sai da frente desse espelho e para de falar sozinha, sua neurótica. Eu quero ir na balada e dançar até me acabar. Eu quero encher a cara no barzinho brega da esquina da faculdade. Eu quero ir no show da banda de pagode que tá bombando. Eu não quero mais ter que me preocupar com o amor, aquecimento global ou aulas de inglês. Porra louca não sofre por amor, só é mandar a fila andar e tá tudo certo. Deixa? Vai. Para de falar sozinha e vai ser uma porra louca. "Não". Não. Por que não? Não deve ser tão difícil. "Não". Por que não, sua maluca? É mais fácil e nem vai doer. "Não". Meu Deus. E por que não? Eu já me faço essa pergunta há quase 10 anos. Mas só dia desses a vozinha suave, que mora dentro da minha mente me disse: "Não, porque você escolheu isso. Lá atrás, em algum lugar do seu passado, você optou por viver e não ter uma vida mais ou menos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Arquivo do blog